Ninguém sabe, mas eu pensava em ter uma newsletter muito antes de lançar esta. E minhas amigas Babi e Sarah eram as maiores incentivadoras que eu tinha. Numa das tantas conversas que tive com Sarah, quando eu me questionava sobre que proposta dar para a newsletter, lembro que falamos sobre inaugurar o canal com diários da viagem para a Coreia do Sul e Japão, que realizei com minha irmã em agosto/setembro do ano passado.
Adiei essa ideia até ter as fotos analógicas da viagem reveladas. Depois até sentir que tinha algo interessante para falar. Não sou uma viajante profissional, não teria muitas dicas, então esperava ter bons insights. Depois, veio o filme Perfect Days e todo mundo parecia estar falando sobre os banheiros do Japão, banalizando o principal assunto que eu tinha imaginado para as minhas crônicas. Então chegou o aniversário de um ano da viagem, no fim de agosto, e mesmo assim achei que não caberia relembrar essa experiência com um livro tão perto de ser lançado. Até que setembro foi se aproximando do fim e eu percebi que em menos de duas semanas embarcaria em uma nova viagem. Mas não era justo não saborear novamente a viagem que habitou meus sonhos por tanto tempo.
Como ainda não quero deixar de falar de comidas e afetos, abandonei minhas expectativas de escrever crônicas cheias de percepções — sobre países que, afinal, eu mal conheço — para relembrar, com você, o que comi. E o que cada comida significou no meio dessa loucura que é tentar conhecer dois países em menos de um mês.
Lámen da Rose
A primeira refeição que aparece na galeria de fotos é do lámen da Rose, que é simplesmente o miojo que a anfitriã do Airbnb de Seul nos ofereceu após a nossa viagem de mais de 24 horas.
Quando estávamos fazendo os planos da viagem, minha irmã preferia que nos hospedássemos em um hotel, mas eu tinha passado umas boas horas lendo as avaliações de acomodações de Airbnb com a minha amiga Polly e insisti para que ficássemos na casa de alguém que soubesse falar inglês.
Eu e minha irmã não somos as pessoas mais precavidas do mundo. E estávamos viajando para um lugar em que não esperávamos que o conhecimento do inglês fosse tão comum. Conhecer um nativo que pudesse nos dar dicas era o meu sonho. Por isso, escolhemos o apartamento da Rose, perto da estação de metrô Oksu. Um lugar pelo qual me afeiçoei bastante em quatro ou cinco dias de estadia.
Claro, um host não precisa oferecer comida ou ajuda a nenhum hóspede. Isso é um trabalho a mais. Mas o que eu e minha irmã não temos de precavidas, temos de sorte em relação às pessoas que encontramos. Na breve conversa que tivemos com Rose, além de nos alimentar com um macarrão quentinho e adaptado à nossa baixa resistência a pimenta, ela nos fez mudar de planos para o dia seguinte, já que iria chover, e ainda nos emprestou os guarda-chuvas que usaríamos durante os nossos dias na capital.
O primeiro café em Seul
Refeitos nossos planos, eu e Soraia partimos para o palácio Gyeongbokgung, com o plano de, antes da visita, tomar nosso café da manhã em uma cafeteria próxima. Eu não tinha feito muitos planos de restaurantes/cafeterias para conhecer, mas a Luísa, amiga da Polly que tinha passado três meses em Seul, compartilhou comigo as suas marcações de cafeterias no Naver map (o Google Maps que usamos por lá). Foi assim que paramos no Namusairo Coffee. Uma péssima escolha para nosso café da manhã. Digo, os bolinhos estavam bons (não tinham nada salgado no menu da manhã) e o café delicioso, mas fizemos acompanhamento nutricional por tempo suficiente para achar que café da manhã sem proteína é crime.
Minha irmã ficou mais chateada do que eu, que, afinal, tinha sido a responsável pela escolha do local, mas depois de um balde de café nosso mau humor já tinha ido embora. Pensando no Namusairo agora, o lugar era lindo e foi a única cafeteria que visitamos que era realmente especializada em cafés, com opções de grãos diferentes. Por isso não havia tantas opções de comida. Fiquei interessada nos drip coffees deles, mas, como era primeiro dia de viagem, achei melhor economizar. Me arrependo? Sim, com certeza.
Passamos uns 15 dias na Coreia do Sul, somando todas as cidades e os períodos em trânsito. E se há algo que ficou dessa experiência, foi que não voltamos a nos acostumar com as (pequenas ou minúsculas) xícaras de café do Brasil, nem com o fato de que há tanta cafeteria servindo café ruim na minha cidade. (Por favor, não me cancelem).
Noodles ou bibimbap?
Algo habitual na nossa viagem era perder a hora do almoço. Começávamos a andar, andar, andar. Nos distraíamos com fotos, vídeos e discussões do próximo passo, até que em algum momento nos dávamos conta da fome. Então a tarefa passava a ser encontrar um lugar que não tivesse tanta cara de “para turista”. Ao redor do palácio Gyeongbokgung e, no meio do caminho para a Hanok Village, dois pontos turísticos imperdíveis, parecia difícil encontrar algo assim. Lembro de andarmos por uma viela estreita, avaliando as opções. Um lugar tinha uma placa indicando que uma cena do drama Goblin havia sido gravada lá. Fiquei emocionada por me imaginar tão perto do universo fictício do qual Gong Yoo fez parte, mas continuamos andando até encontrar uma casa de noodles que parecia simples e vazia.
Para decepção de quem está acompanhando esse relato, não sei o que comi. E isso foi algo frequente em relação aos nossos almoços. Não sabíamos o nome dos pratos e nem entendíamos as diferenças de nomenclatura entre os restaurantes. Frequentemente, escolhíamos pelas fotos ou com alguma ajuda do Papago – um app de tradução. Mas como não temos muitas restrições alimentares, às vezes simplesmente nos permitíamos escolher o que achávamos bonito ou estava em promoção.
Fazer uma visita guiada por Seul, com certeza, deve ser uma experiência mais enriquecedora. Mas, ao longo da nossa viagem, perdemos o medo do outro lado do mundo. Com internet, o aplicativo certo de geolocalização e um app tradutor para quebrar galho, a Coreia não foi nem um pouco assustadora. Vejo algumas pessoas no Instagram dizendo que uma viagem para Coreia não pode ser feita de qualquer jeito e discordo muito. (Nosso maior perrengue foi o de lutar com o cartão da Wise, que quase não era aceito em nenhum lugar). Então, se eu pudesse voltar lá, gostaria mesmo é de um guia que pudesse me ajudar a aprender mais sobre os ingredientes e as comidas. Pela foto do nosso prato, imagino que pedi um bibimbap, enquanto minha irmã foi de noodle. Achamos que estava delicioso — aliás, apenas uma refeição ultrapassou os limites do estranho para nós — mas depois de algumas outras coisas que comemos, não foi um sabor que ficou na memória.
Comidas de rua em Myeongdong
Nosso primeiro dia de passeios foi marcado por muita chuva. A chuva, inclusive, nos fez desistir de visitar o palácio, já que nem conseguiríamos tirar fotos bonitas com o tempo nublado e terminaríamos a visita ensopadas. Sugeri, então, irmos para o destino mais fútil (e o mais aguardado por mim) da viagem: Myeondong e as inúmeras lojas de k-beauty[1].
Myeongdong também é uma região conhecida pelas barraquinhas de comida de rua e, assim que elas foram se instalando, com o anoitecer, decidimos ter a experiência turística de comer tteokbokki e o que mais parecesse apetitoso. Lembro que minha irmã queria experimentar um espetinho de peixe, mas não lembro se provou. E mesmo o tão aguardado tteokbokki não foi digno de aparecer em nenhuma foto minha. Pedimos uma porção para dividir entre nós duas, sabendo que era apimentado, mas tive que lutar (sem sucesso) para comer quase sozinha, porque Soraia não suportou.
A surpresa da noite foi um bolinho de ovo (que, em coreano, é pão de ovo, gyeran ppang), que minha irmã deu a ideia de comprar. Achei que seria sem graça, mas foi a coisa mais gostosa que comi nas barraquinhas. Mesmo com o sucesso do gyeran ppang, voltamos de Myeondong ainda um pouco famintas e um tantinho mal-humoradas, devido aos problemas que tivemos durante o dia com os pagamentos via cartão que nos impediram de torrar tudo em cosméticos — Deus escreve certo por cartões de viagem que não funcionam na Ásia.
Para nossa alegria, em frente ao metrô da nossa hospedagem, a Paris Baguette, uma franquia internacional de confeitaria francesa com raízes sul-coreanas, ainda estava aberta, mesmo que só para compras de viagem. Escolhemos alguns pãezinhos recheados e partimos para casa com muitas promessas novas: no dia seguinte tomaríamos café da manhã lá e também não voltaríamos mais tão tarde sem comer. E foi assim que começou uma linda história de amor.
Socorro! Achei que daria para falar do que comemos em Seul em um único post, mas, revisitando as fotos da minha galeria, desisti. Se me permitem, vou tentar passear por todas as fotos de comidas que encontrar. Sei que muita coisa não foi fotografada, então, a passagem por Seul deve ficar mais acelerada na próxima postagem. Até lá!
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Além disso, na mesma quinta-feira (19), eu e o Arthur Tertuliano conversamos, em uma live do Instagram, sobre o livro. Para quem perdeu, está gravado no meu perfil.
[1] Também é lá que ficam muitas lojas de k-pop, mas, infelizmente, passamos batido pelas principais, onde se poderia encontrar lighsticks e outros merchs além de álbuns.