Na última sexta, participei do São João que meu pai organiza todo ano para os amigos. Normalmente no início de junho — para não atrasar a ida para Campina Grande — meu pai exibe seus talentos como produtor de festas. Tem buffet junino, cerveja gelada, uma mesa de drinks e, claro, grupos de forró. Afinal, foi a vontade de São João com forró que fez essa festa surgir.
Esse ano, após sentar à mesa para descansar depois de uma rodada de músicas na pista de dança, papai começou a contar que a sua relação com o forró tinha sido de amor à primeira vista. Desde que ele viu um salão cheio de casais dançando, cada um de um jeito, ele soube que precisava participar. Quando isso aconteceu, ele ainda era só um moleque, que as mulheres recusavam como parceiro de dança, e que mal conseguia convencer as irmãs a dançar.

Essa historinha que ele contou em menos de cinco minutos ficou na minha cabeça. Minha primeira reação foi ficar encantada, imaginando esse garotinho sendo tocado pela música e pela dança. Meu pai, que mal conseguia assistir filmes com a gente na infância e que diz ter lido seu primeiro livro inteiro na faculdade — quando eu já tinha quase uns nove anos. É curioso que eu dificilmente descreveria meu pai como um homem da cultura, por mais que ele tenha, sim, por osmose, me feito conhecer mais forrós do que me dou conta. Mas eu nunca tinha vislumbrado o tamanho da afetação que essa música provocava nele. Desde pequeno, ele sabia que queria dançar.
Depois, me bateu uma tristeza por viver mais de trinta anos sem nunca ter muito acesso a essa sensibilidade do meu pai. Sem querer me demorar em pormenores familiares, fiquei triste pela vida secreta dos homens, do meu pai. Não só porque ela é um símbolo de uma estrutura patriarcal, que normalizava homens na rua e mulheres em casa. Não só porque meu pai é mais um de tantos homens que não tiveram muita liberdade e estímulo para expressar sua sensibilidade. Mas, principalmente, porque eu senti que fui privada de conhecer uma parte importante da vida dele, que teria amado conhecer desde cedo.
Alô, São Paulo!
Pensei em apenas registrar esses pensamentos por aqui, mas não esperava ficar tão emotiva.
De todo modo, a edição de hoje é atípica por um ótimo motivo: no sábado (14), às 17h, vou estar n’A feira do livro do Pacaembu, no estande da Patuá, para o lançamento de Migalhas em versão impressa.
O livro está em pré-venda até dia 14/06 e seria incrível se você garantisse uma cópia antes do lançamento para impulsionar a visibilidade da obra e ajudar a editora na impressão!
Estou correndo devido à viagem para São Paulo, mas, em breve, volto com notícias sobre o próximo lançamento do livro, na minha cidade natal, São Luís, e todas as surpresas que estou preparando para você.
Em tempo, se você chegou aqui diretamente pelo Substack, gostaria de te convidar a me acompanhar também no Instagram. Ultimamente tenho dedicado muito tempo e criatividade para construir conteúdos que conversem com a minha obra. Comecei a série de 5 lições em 5 receitas para marcar o lançamento de Migalhas nesse mês!
Parabéns pelo lançamento e sucesso! 💫