Nesta quarta falta exatamente uma semana para estar de novo em casa. E, a essa altura da viagem, faço contagem regressiva para voltar. Mas não há nada de errado com o México. Pelo contrário, me sinto muito à vontade na Cidade do México, como se tivesse conhecido uma nova amiga. Ainda assim, sinto saudades e tenho a sensação de que só vou relaxar completamente quando voltar ao que me é mais familiar.
Isso é o engraçado de viajar. Sempre que estou em outro lugar, me pergunto se realmente gosto de fazer isso. Sou uma metamorfose ambulante que nem sempre sabe lidar com a mudança. Mas sigo deixando que até pequenas coisas me movam.
Esta vinda para o México começou a ser planejada em outubro do ano passado, quando eu ainda estava em outra viagem. Surgiu como uma ideia meio doida, mas realizável. Eu sabia que era um tempo curto para planejar uma viagem internacional e que conseguiria juntar pouquíssimo dinheiro para vir para cá tranquila. Mas confiei que tudo se arranjaria e, na pior das hipóteses, eu deixaria minhas finanças um pouco mais desfalcadas.
E o que me fazia ter urgência em realizar esse plano eram, inicialmente, dois shows de kpop confirmados para o início de abril. Em janeiro, os dois shows se transformaram em quatro, quando o meu artista preferido, o J-hope do BTS, anunciou uma turnê que passava longe do Brasil, mas calhava de vir ao México em uma data próxima da que eu já planejava. E sou supersticiosa o suficiente para acreditar que o universo queria que eu visse esse show.
Pode parecer injusto chamar algo que gosto tanto de "pequenas coisas". Mas perto da minha família, minha gata velha, meus projetos literários, meu pós-doc e as oportunidades que parecem estar se abrindo, o meu lado fã tem ocupado um espaço pequeno na minha vida hoje. Então, foi bem impulsivo realizar essa viagem agora, mas segui com o plano como se fosse um dever.
Talvez seja mesmo o pagamento de uma dívida com minha versão fã hardcore de 2020, que me mostrou que faltava paixão nos meus dias. Ou talvez eu só quisesse, desesperadamente, aproveitar o último ano de licença que tenho. Fato é que vim, mesmo sem o meu companheiro, que não pode ignorar as demandas do trabalho.
No tempo que estou aqui, driblo o sentimento de culpa por estar vivendo tão sem propósito, abraço cada dia preguiçoso e aguardo ansiosamente pelos shows (só falta um agora). Não saberia viver assim por muito tempo, mas, por isso mesmo, sinto que preciso levar algo dessa experiência.
Nessa semana, encontramos com a anfitriã do apartamento onde estamos hospedadas e contamos sobre essa viagem ao México e todos os shows de k-pop que viemos assistir. Ela riu muito da nossa história, mas também revelou que ela, uma coreana que morava há 16 anos nos EUA e trabalhava com finanças, há 3 anos tinha se apaixonado pelo México e comprado esse apartamento. Aqui, ela faz aulas de atuação para melhorar o espanhol e, pelo que presumi, vive da renda do aluguel do imóvel. É possível viver assim porque ela tem uma vida simples e, pelo visto, não se importa de dividir a casa com alguns estranhos.
Na conversa, eu comentei que ela estava vivendo um sonho e, assim que saí, fiquei pensando que eu também, em menor proporção e num caminho contrário, que envolve mais gastar o dinheiro que poderia em algum momento me permitir viver sem trabalhar. Algumas vezes me senti muito boba (e doida) revelando o motivo dessa viagem, mas a minha anfitriã também deve ter se sentido assim por largar uma vida estável e se mudar para outro país com a única justificativa de aprender espanhol e dançar salsa (e sem a intenção de transformar isso em profissão).
O que esta viagem me ensina é a ter um gostinho do que é não deixar o imperativo do sucesso profissional levar o melhor de mim, por mais que eu esteja tentando fazer isso há mais de um ano. Talvez esse seja um passo radical, mas divertido, para não pensar tanto no futuro e aproveitar o agora.